terça-feira, 4 de setembro de 2007

Para todas as mães

Ontem começou mais um ano na vida escolar do Gonçalo. Depois de mais de um mês de férias, voltou à sua escolinha, agora numa sala diferente. Tem coleguinhas novos, são mais sete meninos e meninas que vão passar a viver o seu dia-a-dia lado a lado, aprender coisas novas em conjunto, chorar e rir juntos e dividir muitas brincadeiras. No seu primeiro dia, o Gonçalo portou-se muito bem, riu para toda a gente, brincou muito, festejou o reencontro com os seus velhos amiguinhos do berçário, explorou todos os cantinhos da nova sala, enfim, foi um recomeço muito bom!




Só não percebeu porque choravam tanto os novos coleguinhas... Não percebeu porque é que as mamãs deles iam embora também a chorar... Não percebeu porque é que eles não queriam brincar e porque chamavam tantas vezes a mamã... Ele também tinha saudades da mamã, do papá e dos manos, mas no final da tarde, já estariam todos juntos outra vez e agora era tempo de brincar com os meninos da sala, explorar os brinquedos novos e fazer coisas divertidas, como pintar as mãos de azul, comer as folhas das revistas e esconder as chupetas dentro das caixas coloridas!

Claro que o Gonçalo não sabe, é muito pequenino para compreender e além disso desde muito cedo que aquela sala de bébés é a sua segunda casa. A Marlene, a Cândida, a Patrícia, a Paula, a Rosa, a Zé, são as "tias" em quem ele sempre confiou, com quem ele sempre brincou e conhece desde quando era mesmo um "bebezinho"...

Mas, a mãe do Gonçalo compreendeu aquelas lágrimas e percebeu aquela mãe que chorava baixinho à porta, para que o filho não a visse e não chorasse ainda mais.

A mãe do Gonçalo sentiu também o seu coração apertado e o nó na garganta. Não conseguiu também esconder aquela lágrima teimosa que insistia em sair pelo canto do olho.

Só as mães que vivem esse momento, de olhar para trás e ver o seu filho debulhar-se em lágrimas enquanto se afastam, percebem o quanto esse momento é doloroso e o quanto pode significar nas suas vidas.

A todas as mães que ontem viveram essa experiência pela primeira vez na vida e a todas aquelas que já conseguem engolir as lágrimas, quero aqui fazer uma pequena homenagem.

Dedicar-lhes esta história, que recebi um dia destes por email e que de facto, diz muito do que é ser mãe. Esta é a história de uma mãe em full-time, aquelas que têm a felicidade de puder estar o dia todo com os seus filhos e que muitas vezes não lhes reconhecem o seu devido valor.

Para todas as mães, aquelas que têm empregos e aquelas que não os têm, aqui fica o meu tributo. Para todos as mães, que agora cuidam dos seus netos, para as mães que cuidam, que protegem, que educam os filhotes das outras mães, a todas elas: bem hajam!

"Uma mulher foi renovar a sua carta de condução. Pediram-lhe para informar qual era a sua profissão. Ela hesitou, sem saber bem como se classificar. "O que eu pergunto é se tem um trabalho", insistiu o funcionário.

"Claro que tenho um trabalho", exclamou. "Sou mãe".
"Nós não consideramos "mãe" um trabalho. Vou colocar"Dona de casa", disse o funcionário friamente.

Não voltei a lembrar-me desta história até o dia em que me encontrei numa situação idêntica.
A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona da situação, perguntou:Qual é a sua ocupação?

Não sei o que me fez dizer isto, mas as palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora:

"Sou Doutora em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas."

A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar para o ar e olhou-me como quem diz que não ouviu bem.

Eu repeti pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas.
Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial.

"Posso perguntar" - disse-me ela com novo interesse - "o que faz exatamente?"

Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder:

"Desenvolvo um programa a longo prazo (qualquer mãe faz isso), em laboratório e no campo experimental (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa). Sou responsável por uma equipa (a minha família), e já recebi quatro projetos ( todas meninas).

Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma mulher discorda??), o grau de exigência é de cerca de 14 horas por dia (para não dizer 24 horas!).

Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária que acabou de preencher o formulário, levantou-se e, pessoalmente abriu-me a porta.
Quando cheguei a casa, fui recebida pela minha equipa: uma menina com 13 anos, outra com 7 e outra com 3 anos. Do andar de cima, pude ouvir a minha nova experiência (um bebê de seis meses), a testar uma nova tonalidade de voz.

Senti-me triunfante! Maternidade... que carreira gloriosa!

Assim, as avós deviam ser chamadas: "Doutora-Sênior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas".

As bisavós: "Doutora- Executiva- Sênior".

E as tias: "Doutora - Assistente".

Uma homenagem carinhosa a todas as mulheres, mães, esposas, amigas, companheiras.

Doutoras na Arte de fazer a vida melhor !!!"

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